terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Dialeto e Preconceito

Leitura Suplementar:


Luiz C. Cagliari


Para a escola aceitar a variação lingüística como um fato linguístico, precisa mudar toda sua visão de valores educacionais. Enquanto isso não acontece, os professores mais bem esclarecidos deveriam pelo menos discutir o problema da variação lingüística com os seus alunos e mostrar-lhes como os diferentes dialetos são, porque são diferentes, o que isso representa em termos das estruturas lingüísticas das línguas e, sobre tudo, como a sociedade encara a variação lingüística, os seus preconceitos e a conseqüência disso na vida de cada um.
Chegamos agora a um ponto importante. A escola deve respeitar os dialetos, entendê-los e ate mesmo ensinar como essas variedades da língua funcionam comparando-as entre si; entre eles deve estar incluído o próprio dialeto de prestigio, em condições de igualdade linguística.
A escola também deve mostrar aos alunos que a sociedade atribui valores sociais diferentes aos diferentes modos de falar a língua e que esses valores, embora se baseiem em preconceitos e falsas interpretações do certo e errado linguístico, têm conseqüências econômicas, políticas e sociais muito sérias para as pessoas.
Uma pessoa que deseja trabalhar como operário que lida em silêncio com uma máquina pode consegui-lo mesmo se falar um dialeto estigmatizado pela sociedade. Porém, se aspira a um emprego em que se lide com o público, sobre tudo envolvendo as classes sociais mais altas, só o obterá se for falante do dileto dessas mesmas classes.
Se uma pessoa deseja freqüentar os mesmos lugares que pessoas de determinada classe social considerada de prestigio, ou ocupar cargos de poder, deverá saber falar como as pessoas desse grupo, ou satisfazer as expectativas lingüísticas que a sociedade tem a respeito da fala dos seus dirigentes.


Extraído do livro: Alfabetização & Lingüística.
São Paulo, Scipione, 1989. p. 82-3.

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